Todos nós somos apaixonados por histórias. Sejam românticas, de terror ou até cheias de monstros e super-heróis, a verdade é que não há ninguém que não fique agarrado a um livro ou um filme só para saber o que acontece no final (e spoiler alert: normalmente o bem triunfa sob o mal e todos são obrigados a serem felizes*).
Se tal como qualquer millennial que se preze, eu não resisto a um bom binge-watch de uma qualquer série de televisão norte-americana, a verdade é que as minhas histórias preferidas são aquelas que oiço diariamente no caminho de casa até aos escritórios da Guess What: canções com história.
Canções que contam as (des)venturas de uma personagem qualquer, seja a de um inglês em Nova Iorque**, de um qualquer idiota americano*** ou até sobre um qualquer cartoon nas manhãs da RTP 1****.
Este pequeno guilty plesure começou durante as tradicionais férias de verão no Algarve com os meus tios, primos e avós, em que descobri o meu primeiro álbum concetual, devia eu ter uns 10 ou 11 anos.
Por algum acaso do destino, houve um disco do Rui Veloso, “Mingos e os Samurais” que acabou na mão da pequenada lá de casa. Já no fim dessas férias, nós, os miúdos, juntamo-nos como sempre na sala de estar do grande casarão e começamos a ouvir o CD do início ao fim, enquanto líamos o livrete das letras.
Foi nesse momento que percebemos que canções como “Não Há Estrelas no Céu” ou “Paixão (Segundo o Nicolau da Viola) ”eram algo mais do que um refrão repetido incessantemente no rádio do carro ao longo das nossas infâncias.
Eram as histórias do Meno Rock, do Lau da Viola, do Berto Poeta, do Quim, do Mingos e do Nando, um grupo de amigos que formou a banda “Mingos e Samurais”, o nome ao álbum.
Ao longo destas 22 canções ficamos a conhecer as aventuras deste grupo de amigos que nasceu e cresceu nos subúrbios do Porto, bem como algumas das suas paixões como Zira, Conceição ou Noémia, a morena de azul, até à chegada das fatídicas cartas de chamada para a Guerra Colonial.
Foi assim que percebi qual o poder de uma história bem contada. Com as personagens e os detalhes certos, podemos levar qualquer pessoa a viajar pelo mundo da imaginação, a descobrir novos lugares, a provar novos sabores ou até a experimentar algo completamente diferente daquilo que usualmente se gosta.
Se cada um dos meus primos cresceu para descobrir outros géneros e outros artistas, eu cresci também para encontrar outros contadores de histórias, que tal como o Carlos Tê e Rui Veloso, me levem a viajar pelo mundo entre uma ou duas estações de metro.
*Chico Buarque – João e Maria
** Sting – Englishman in New York
*** Green Day – American Idiot
***** Os Azeitonas – Nos Desenhos Animados