A ideia de uma quarta parede já há muito foi derrubada, mas hoje, mais do que nunca parece haver um livre trânsito entre os diversos quartos do espaço público. Não há nada que lá se faça que não possa ser alvo de resposta mesmo quando os atores envolvidos olham para os seus atos como entretenimento ou ações privadas.
Kurt Zouma foi filmado em casa a pontapear o seu gato. Pela linguagem corporal, parecia não ser a primeira vez e parecia até, haver um bom grau de divertimento. O irmão do jogador de futebol do West Ham de Inglaterra publicou o vídeo como sinal de brincadeira e a resposta foi devastadora. Pediu-se o despedimento imediato do francês que acabou por ficar sem os seus gatos e a pagar cerca de 300 mil euros de multa. A lei cumpriu-se, mas sem a pressão das pessoas via redes sociais, com contágio dos meios tradicionais, a ação teria sido inexistente ou mais tardia.
No mesmo país, um inglês com a mesma profissão foi afastado do seu clube, apagado do videojogo de futebol mais popular, ficou sem patrocinador de roupa desportiva (aliás, como Zouma) e sobretudo, enfrenta sérias consequências legais. Greenwood foi gravado numa alegadamente prática corrente: maltratar a namorada, psicologicamente e fisicamente. Depois do áudio ter ganho tração nas redes sociais, a punição parece ter-se precipitado.
Por cá, Bruno de Carvalho, concorrente do Big Brother acabou expulso (pelo público) após uma série de ações que o colocaram como parte de uma relação abusiva. O tema foi explorado nas redes sociais, foi vários dias trend topic no Twitter e levou a uma queixa da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) ao Ministério Público pelo “comportamento ameaçador” do concorrente. Este será o caso mais complexo de julgar, mas não deixa de ser uma análise interessante, em que os vídeos que corriam as redes sociais levaram à queixa.
Estes três exemplos mostram a noção de Ativismogran, um ativismo que tem as redes sociais, em especial, o Instagram como centro (que podem ajudar na pressão pública mas nunca se substituem à justiça, claro). Aqui, como se tem visto, todos podem dar a sua opinião e estar no lado certo – defesa dos animais e dos agredidos – nestes casos. Podem fazer parte da solução juntando-se a uma massa que exige justiça. Nestes casos, vimos também os chamados influenciadores a juntarem-se ou mesmo a liderarem as causas. Sempre que isso for transparente e sincero, é bem-vindo. E no ativismo de rede social, a transparência e sinceridade são valores centrais.
Para os atores que escolhem prosperar num mundo público, sem paredes, a transparência e sinceridade são vitais sob pena dos julgamentos serem ainda mais severos.

Francisco Reis, Corporate Division Manager

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