Acaba de fazer um ano que se descobriu o primeiro infetado com Covid-19 em Portugal. Foi esse o ponto de viragem que fez com que todos nós (e, por conseguinte, os meios de comunicação social, já que a proximidade é um critério central no Jornalismo) passássemos a dar mais atenção ao novo coronavírus.

No início da pandemia em Portugal, mesmo em épocas de confinamento, havia uma conferência de imprensa diária com a presença da Ministra da Saúde e da Diretora da Direção-Geral da Saúde. Começaram por ser longas (por vezes errantes), transmitidas em direto por mais do que um canal e vistas religiosamente pelos portugueses, muitos dos quais já em casa. Criou-se uma espécie de reality show macabro no qual acompanhávamos os avanços da doença e da resposta.

Hoje, as conferências são mais curtas, diretas e espaçadas, sendo a informação dos números do dia passada amiúde como nota de rodapé. Não que se tenha deixado de dar espaço noticioso ou importância, mas porque esse report já não é a notícia central. O plano de vacinação e a preparação para o regresso à normalidade possível são agora o que mais interessa discutir.

Ao mesmo tempo, era libertado todos os dias um pequeno relatório da situação. Com estas duas ferramentas, os portugueses tinham informação ao dispor para perceber o que se passava, mesmo que fosse um tema complexo e em constante mutação, como se vê pela evolução da recomendação do uso de máscara. Claro que, como em tudo, cada jornalista e cada meio têm um ângulo diferente para pegar nos números e fazer as suas interpretações, mas isso todos os portugueses podem fazer também. O papel do fact checking também tem sido importante, sobretudo para contextualizar ou desmontar informações difundidas, por exemplo, nas redes sociais ou em aplicações de conversação online, onde desde cedo começaram a circular áudios duvidosos.

Os jornalistas começaram ainda a procurar especialistas da área da saúde que pudessem comentar a situação e que, de certa forma, pudessem simplificar as mensagens e dar conselhos fundamentos aos portugueses. Também pessoas ligadas ao Governo, às quais os jornalistas davam menos atenção e o público conhecia menos, começaram a aparecer nos media. Miguel Castanho, Pedro Simas ou Ricardo Mexia passaram a ser figuras centrais no espaço público e talvez as mais consensuais, ao contrário dos profissionais da DGS, por exemplo.

Em resumo, os jornalistas fizeram e fazem bem o seu trabalho de informar os públicos acerca da pandemia. Têm fontes oficiais e procuram fontes e comentários alternativos. E os portugueses têm acesso a vários veículos de informação, que lhes permitem entender melhor tudo o que se passa. Do lado de quem tem o dever de informar nota-se uma evolução na forma, mesmo que o conteúdo, fatalmente, não agrade aos públicos.

Francisco Chaveiro Reis, Partner & Corporate Division Manager

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