O cenário de digitalização já é bem anterior a esta pandemia que nos desafia globalmente e nos molesta na intimidade. O “novo normal” não é a luta contra o vírus, a qual todos acreditamos ser circunstancial. É, isso sim, um Mundo em permanente comunicação, diversificação de meios e acelerado desenvolvimento tecnológico.
Comunicamos de qualquer sítio para qualquer ponto do mundo e temos à disposição inúmeras ferramentas para o fazer. As coisas comunicam entre si, comunicam connosco e fá-lo-ão cada vez mais, à medida que a tecnologia avança.
Se este é um processo mais ou menos assimilado nas modernas sociedades, é verdade que, por vezes, também sofre impulsos inesperados. A COVID-19, com todos os males que acarreta, trouxe-nos novos paradigmas, como o teletrabalho e a consequente generalização das ferramentas remotas ou os primórdios de um ensino que não se limitará à tradicional presença na sala de aula.
Tenderemos, portanto, a lógicas de interação que eliminam a distância física, mas que, paradoxalmente, funcionam remotamente, tendo o potencial de nos aproximar.
Para as empresas, o desafio é ainda maior. Começa pela organização interna, à qual, regra geral, vão respondendo com relativa eficácia, mas evolui para a forma de vender e, como tal, de comunicar. Digitalizar não é apenas eliminar a distância física. É criar novos modelos de aproximação ao cliente.
É isso que significa uma transformação digital. Implica otimizar e promover a melhoria contínua, expandir alcance e entregar a mensagem certa à pessoa certa e no momento certo. Implica também integrar processos, sustentar estratégias em capacidade analítica de dados e envolver o potencial dos diferentes meios de comunicação disponíveis.
Tudo isto sem esquecer o Humanismo. Num contexto em que as máquinas avançam, importa manter aquilo que apenas é possível por parte dos humanos, como a empatia ou a contextualização. O computador tem um tipo de inteligência: o cálculo. Os humanos têm vários tipos de inteligência: social, emocional, intelectual, etc. Ou seja, o computador tem os dados, mas não a sabedoria, as relações e a experiência.
É verdade que vivemos numa Era de crescente robotização e que os avanços em Inteligência Artificial ou Machine Learning antecipam um Mundo inteligente à nossa volta (a Internet das Coisas), com o qual teremos de lidar no quotidiano e nas diferentes ocasiões: em casa, no trabalho e até na vida social.
Mas não nos podemos transformar na tecnologia. Esta tem de ser um meio para e não um fim em si mesma. Não deve ser o que procuramos mas sim como procuramos. A “ditadura” tecnológica impôs-se, condicionado e definindo o nosso modus operandi, mas não a nossa essência.
Num mundo sempre interligado e em transformação exponencial, os momentos não conectados poderão ser o luxo do futuro. O offline será premium e terá valor de mercado e comunicar não deixará de ser um Humanismo.
Luís Aragão, Senior Digital Consultant