Estamos a chegar ao final do ano, altura em que fazemos balanços e analisamos o saldo positivo ou negativo de campanhas e estratégias de comunicação e de relações institucionais, e ajustamos objetivos tendo em conta um novo ano que começa. Na área da consultoria estratégica em comunicação este período pauta-se pela preparação do próximo ano e pelos relatórios de balanço, por análises quantitativas e qualitativas, pelos resultados alcançados e pela performance conseguida de acordo com os parâmetros de trabalho que estabelecemos para atingir o que definimos como o sucesso de um cliente e parceiro, que é e será, impreterivelmente também o nosso.
Por muito que tenhamos mecanismos e fórmulas, KPI e resultados quantificáveis de medir os resultados, o sucesso de uma campanha, ou os objetivos alcançados e superados, devem-se não só à confiança que um parceiro deposita no trabalho do consultor de comunicação, como na forma como esse mesmo consultor aconselha, influencia, faz por acontecer, as conexões que cria, as relações que estabelece – seja com os órgãos de comunicação social, influenciadores ou KOL, ou até mesmo com legisladores e decisores políticos – e que em enquanto representante legítimo de interesses executa, alcança e introduz um determinado tema na agenda pública e mediática.
Cada vez mais, num mundo onde as fake news proliferam, em que as redes sociais as disseminam a uma velocidade difícil de controlar, em que assumimos como certo o que se lê nos Feeds de Facebook e Instagram, sem contestar, o que podemos esperar de 2020 para a área da Consultoria Estratégica de Comunicação e de Assuntos Públicos de forma a transmitir credibilidade?
Numa palavra: autenticidade. Parece um paradoxo, mas não é. Numa área saturada por contra-informação e por desinformação, talvez faça sentido revisitarmos conceitos e voltarmos ao básico da comunicação e aplicar algumas das suas regras mais fulcrais: questionar, confirmar e criar relações de confiança, autênticas e duradouras. Não se trata apenas de zelar pelos interesses de um parceiro utilizando todos os pretextos ao nosso alcance para fazer acontecer, porque o resultado de hoje – caso o processo não tenha sido gerido de forma correta – não permitirá um novo sucesso amanhã e o objetivo conseguido este ano, não se traduzirá num novo objetivo superado no ano seguinte. E aí reside a questão: autenticidade na gestão dos processos, confiança na forma transparente e fundamentada como gerimos as expectativas de um cliente – acredito que um bom consultor será aquele que aconselha o seu interlocutor, afirmando e justificando mesmo aquilo que ele não quer ouvir, mas que deve ouvir, e que mais tarde poderá reconhecer o nosso esforço / conselho, mesmo que nem sempre concorde com ele – e um processo honesto, transparente e digno de confiança na forma como lidamos com as partes envolvidas / stakeholders durante um momento de gestão estratégica. Neste último ponto, importa destacar a importância para que a regulamentação do lóbi seja efetiva nesta XIV Legislatura – tema ao qual que me dedicarei num próximo artigo.
Assim, urge voltar às noções básicas da comunicação, com formas autênticas de estar, abrindo-se espaço para o tema autenticidade no contexto da consultoria estratégica em comunicação. Considerando as exigências e pressões sociais e do mercado sobre as organizações e, em particular, na credibilidade e na reputação, o fortalecimento das empresas / marcas parece lógico e urgente. O desafio atual para os consultores de comunicação é articular saberes que diferenciem as marcas e as empresas a partir de uma atuação inovadora e estratégica. A gestão da percepção de autenticidade, enquanto vantagem competitiva, pode ser o caminho.
Gonçalo Carvalho, Public Affairs Manager