A digitalização das sociedades, da economia e da nossa forma de viver é uma realidade incontornável. O digital impõe a sua narrativa de forma exponencial e questiona os alicerces da nossa organização comum, reinventando métodos, perceções e compreensões. E não é somente um processo técnico. É cognitivo também.
A disrupção é inerente à transformação e, como em qualquer revolução, não estamos isentos de dores de crescimento. Desse ponto de vista, colocam-se enormes desafios aos sistemas económicos e políticos, ao comércio global, no mercado de trabalho, na ordenação jurídica, nas relações sociais e familiares ou mesmo para o nosso comportamento individual.
A primeira preocupação, especialmente no espaço europeu, foi a privacidade dos dados. Correto! Importa regulamentar a sua utilização e evitar a exploração indevida das mecânicas Big Data. Mas esse controlo será sempre relativo. A utilização dessa informação constitui o fundamento económico do pressuposto digital.
Há uma poderosa força motriz no interesse das marcas, com o intuito de segmentar a mensagem e maximizar retornos. Deste ponto de vista, o Marketing Digital traz poderosas ferramentas que cumprem objetivos há muito ansiados e que sempre foram perseguidos nas tradicionais plataformas de Media. Na essência, as técnicas de Marketing Digital não são mais perversas do que as outras. Serão, porventura, mais eficientes.
A Publicidade, enquanto “disciplina” da Comunicação, desde há muito tempo integrou o quotidiano das sociedades. A precisão do digital, se entusiasma os especialistas, assusta os mais céticos. Mas não vejo aqui grande problema. Prefiro um anúncio alinhado com as minhas preferências do que esvaziar a caixa de correio de panfletos indiscriminados.
E não vale a pena demonizar os algoritmos. Já não é o sonho que comanda a vida…
Agora, quando entramos em esferas como angariação indevida, venda de bases de dados, divulgação propositada de falsidades ou manipulação dos sistemas organizacionais e políticos, exigem-se cuidados apurados. E é precisamente por isso que devemos compreender que as responsabilidades do digital vão muito para além do RGPD (Regulamento Geral para Proteção de Dados).
As consequências para o equilíbrio das forças económicas, os efeitos na relação do Estado com os cidadãos e a “mudança genética” nas novas gerações são aspetos que têm sido aflorados à superfície. Há estudos, visões e previsões, mas muito pouco pragmatismo e escassa ação.
Sem a devida antevisão, o ritmo digital pode ser excessivo e multiplicar as problemáticas mais fraturantes. É uma grande responsabilidade que não podemos dissociar de valores tão fundamentais como a Ética, os Direitos Humanos ou a Equidade.
O digital funciona como um acelerador, cujo pé não levanta, num cenário sem limite de velocidade. E não é por acaso que estamos tão comprometidos na sua implementação. Há muitos pontos positivos: aumentos de eficiência, redução de custos, crescimento do conforto individual, facilidade de acesso à informação ou vantagens ambientais, entre tantos outros.
Devemos aproveitar as virtudes deste paradigma tão entusiasmante, garantindo simultaneamente que não se transforma numa pandemia sem vacinação à vista.
Luís Aragão, Senior Digital Consultant