Todos, enquanto cidadãos e, acima de tudo, colaboradores, nos lembramos da pandemia que atingiu o mundo em 2020 e o forte impacto a nível social, no setor da Saúde, e, acima de tudo, económico que originou. O “mundo do trabalho”, tal como o conhecíamos, deixou de existir…
As empresas precisaram de se reinventar, cortar com dogmas e políticas de trabalho retrógradas, apostar na digitalização dos processos e usar e abusar das novas tecnologias. Já os colaboradores tiveram que se adaptar, ser flexíveis, aprender novas skills e responder positivamente às exigências e mudanças laborais. Se inicialmente não foram ouvidos ou nem tidos nem achados neste processo, pela urgência de Saúde Pública, o facto é que, a longo prazo, esta mudança de paradigma se virou contra as próprias políticas de recursos humanos defendidas pelas empresas.
Atualmente, as organizações precisam de trabalhar mais e melhor para atrair e reter talento e, acima de tudo, garantir uma experiência positiva no trabalho. De acordo com um estudo realizado, em 2019, pela Forrester Consulting, os custos associados a uma experiência menos positiva dos colaboradores têm um impacto económico muito relevante, na medida em que se assiste a uma diminuição da produtividade em 38% e a um aumento da rotatividade dos colaboradores em 36%.
Com o impacto social, económico e até pessoal da pandemia, a classe trabalhadora reorganizou as suas prioridades, repensou os seus empregos e carreira profissional e assistiu-se, pela primeira vez, a um fenómeno laboral designado por ‘Great Resignation’ – um despedimento em grande escala, por parte dos colaboradores, em busca de um emprego que lhes garantisse uma melhor qualidade de vida.
Apesar de em Portugal este fenómeno não ter atingido os números astronómicos como a nível internacional, tal foi suficiente para abalar as estruturas e a gestão tradicional dos recursos humanos nas empresas. Os trabalhadores, após a pandemia, exigiram não voltar atrás e continuar a trabalhar de forma remota, a exercer as funções a partir de casa, com maior flexibilidade de horários e local de trabalho, mas também com maior compromisso e responsabilidade. Tem vindo a provar-se que é possível um maior equilíbrio entre a vida familiar, pessoal e laboral, criando-se uma nova geração de valores.
Hoje em dia, as empresas deparam-se com um mundo de trabalho cada vez mais digital, híbrido e global, que permite aos talentos escolherem trabalhar para empresas de todo o mundo a partir das suas próprias casas e, por isso, com uma maior oferta de oportunidades e realização profissional.
Posto isto, levanta-se a seguinte questão: “num mundo global, como é que as empresas podem reter talento?”. Não sendo eu gestora de recursos humanos, mas tendo em conta o estado da arte, diria que terão que trabalhar sobre quatro importantes valores: a estabilidade, a flexibilidade, a experiência positiva e também, ainda que cada vez menos importante, a reputação.
As empresas precisam de estar mais próximas das pessoas, de serem mais humanas e de construirem uma nova relação de parceria com os seus colaboradores, tendo por base a confiança e a sustentabilidade. Os colaboradores querem fazer parte do êxito da empresa, sendo o segredo do sucesso da organização! Estes não procuram apenas uma boa política de benefícios, como os prémios, a progressão da carreia ou os objetivos. Por outro lado, procuram, mais do que nunca, trabalhar num ambiente positivo, com uma relação de proximidade, a valorização dos conhecimentos e contributos, ansiando pela flexibilidade, o trabalho em equipa, bem como tempo para conhecer e conviver com os colegas, e a partilha de experiências e expectativas, sendo orientados pelo exemplo. Não querem, acima de tudo, fazer parte dos 80% dos colaboradores que sentem estar em risco de burnout.
De acordo com o estudo da Global Talent Trends 2022-2023, “as organizações mais autênticas e humanas, promotoras de valores cívicos e que ofereçam espaço para um maior envolvimento direto dos colaboradores, estarão em melhor condição para atrair e reter talento”.
Posto isto, temos a resposta à nossa pergunta. A capacidade de atrair e de reter talentos começa dentro das próprias organizações!
Sara Ferreira, Communication Consultant